Vivemos em um mundo em que há “opiniões” para todos os lados. A explosão das redes sociais potencializou as vozes da sociedade. Hoje, muito mais gente fala. Mas será que as pessoas (ainda) escutam? Será que (ainda) há diálogo? Uma sociedade baseada em “blocks”, “unfollows” e timelines produzidas de acordo com os próprios interesses não pode mesmo saber conviver com o diferente. O problema é saber se isso é causa ou consequência um do outro.
Esse é um questionamento que me assola há algum tempo. Na verdade, não tenho uma resposta para as perguntas acima. Ao mesmo tempo em que com as novas tecnologias e os novos meios de comunicação as pessoas podem ter mais acesso ao diferente, tenho a sensação de que elas estão cada vez menos interessadas, preocupadas e abertas a ouvi-lo, compreendê-lo, aceitá-lo. Isso tudo poderia até mesmo levar – por que não? – a mudanças de opinião.
No entanto, parece-me que as pessoas querem provar as suas opiniões a qualquer custo, jamais aceitar mudá-las. O fato de se poder escolher o que/quem seguir, curtir, e de ter o seu “feed” alimentado de acordo com os seus comportamentos cria um círculo vicioso. Por mais que existam pluralidade de vozes, as pessoas passam a só interagir com as mesmas opiniões, fatos, lados. Não há diálogo, discordância sadia. Há “curtidas” e “menções”, só.
Além disso, curtir, comentar e compartilhar não é dialogar. Curtir é aceitar sem debater. Compartilhar é espalhar o conhecimento, mas sem questioná-lo, sem mostrar o outro lado (daí a importância de bom jornalismo ainda nos dias de hoje – mas isso é tema para outro post!). Comentar é, nesse contexto, uma forma rasa de se comunicar. Quase nunca, nas redes sociais, se comenta com alguém. Normalmente, se comenta sobre algo/alguém. Não se exerce a capacidade de dialogar.
Quando o indivíduo se depara com algo que não concorda, qual a reação? Não curtir, não comentar, não compartilhar. Quando muito, comentar rasamente, com xingamentos ou argumentos rasos (assim como a concordância rasa diante do que apoia – “perfeito”, “disse tudo”, etc.). Não há um debate mínimo.
Claro, não se trata de querer transformar a internet e as redes sociais na “Casa do Saber”. A internet está muito mais para a mesa de bar. Mas até lá, no botequim, você fala e ouve o amigo na mesa e, entre uma cerveja e outra, muitas vezes se inicia uma boa discussão. No ambiente online, só queremos falar, mesmo que ninguém queira nos ouvir, e não queremos conviver com o outro. Seguimos a máxima de que “é melhor eu estar certo, mesmo que no meu mundo, na minha realidade produzida por mim”, do que prestar atenção no diferente, compreendê-lo e, juntos, mudarmos e melhorarmos.
Não sei se primeiro começamos a perder a capacidade de dialogar e debater e depois nos comportamos assim nas redes sociais ou se a causa foi o nosso comportamento online que passou a ter como consequência essa perda social do debate sadio. Talvez um pouco dos dois, em mais um círculo vicioso. Pois, então, comecemos por mudarmos as nossas redes sociais, é mais fácil e mais rápido. Passemos a seguir coisas que não concordamos, a ler o que não gostamos. A pesquisar antes de emitirmos opiniões. A escutar primeiro, falar depois – e só se tivermos algo realmente útil a ser dito. Senão, prefiramos o silêncio dos que ainda não seriam capazes de opinar sobre tal assunto. Quem sabe, assim, não quebramos esse círculo e redescobrimos, aos poucos, a capacidade de debatermos, dialogarmos e convivermos com o diferente, melhorando efetivamente nossa sociedade?
Foto em Destaque: Laura Freitas | Para o blog
Ufa! Não é que falar, falar, falar… tá ficando muito comum?
Opa! Tá na hora de ouvir alguns amigos! Fui!