O conceito de “tom” me agrada muito. Ele pode ser usado para tudo. O tom de uma música, o tom de uma cor, o tom de uma fala. Já falei no blog sobre a capacidade de diálogo nos dias atuais. Agora, é hora de prosseguir o debate. Estamos “gritando demais”? Afinal, estamos “fora do tom”?
Acredito que usar o conceito de “tom” é uma ótima medida para analisarmos a nossa sociedade. Isso porque o tom de alguma coisa não é fechado, parado, nem único, mas variável. Uma mesma música pode ser tocada em vários tons. Uma mesma cor tem vários tons (e não estou falando só dos “50 tons de cinza”, ok?). Um diálogo tem diversas entonações nas falas! Por exemplo: a diferença de se falar um “Não, pode ser…” para um “Não pode ser!” é no tom – e nas pausas que o acompanham.
Assim também é a vida. Em uma análise exterior ao indivíduo, pode ser dito que as relações que formam a nossa sociedade são extremamente mutáveis e estão o tempo todo em transformação. Em um sentido interiorista, as nossas relações pessoais também mudam de tom constantemente. O problema é que, se estamos mesmo perdendo a capacidade de dialogar, muito disso é porque estamos conversando, agindo e vivendo no tom errado ou, melhor dizendo, fora do tom.
É claro que não existe um tom certo ou errado para a vida. Isso é subjetivo e individual. Mas, ao olharmos para a sociedade como um todo, podemos sim afirmar que o tom não está correto. Mais ainda, podemos dizer que estamos todos fora do tom. Em um mundo marcado pelo hiperestímulo constante, gritamos para sermos ouvidos. Mas o cidadão ao lado também grita. E o da frente também. O da esquina? Está gritando! E, no meio dessa gritaria toda, ninguém ouve ninguém.
Na ânsia de termos voz, estamos, na verdade, perdendo as nossas vozes. Não se trata de tirarmos as vozes da sociedade, pelo amor de Deus! Longe disso! Uma sociedade saudável é uma sociedade em que todos têm voz – e são ouvidos. O que estou dizendo aqui é que não adianta termos voz só para gritar ao mundo. Precisamos encontrar maneiras de ouvir os discursos. Não à toa, tenho gostado muito ultimamente do silêncio, da reflexão. Refletir passa por ouvir atenciosamente, parar em silêncio e pensar. A gritaria favorece o discurso raso e sem reflexão. Por isso também, admiro cada vez mais quem se faz ouvir falando baixo. Na verdade, não é coincidência que os melhores pensadores de nosso tempo falam baixo. Assista a uma palestra do Marcio Tavares D’Amaral ou do Padre Fábio de Melo que você vai entender.
Não sejamos pessimistas. Há solução! Acredito, sinceramente, que muito disso passa por aprofundarmos nossas discussões. Passa por refletirmos antes de falarmos. Antes de gritarmos conceitos prontos e com pouco conteúdo, vamos ouvir quem entende. Vamos procurar entender e opinar com embasamento. E, principalmente, precisamos ter consciência de que toda ação tem uma reação, uma consequência. Ao gritarmos, a chance de recebermos outro grito como resposta é grande. Estamos fora do tom nas nossas ações. Uma ação extrema gera uma resposta, uma consequência, extrema. Já uma fala calma tende a receber outra fala calma como resposta. Está na hora de gritarmos menos e falarmos mais. Viva o conselho baixinho! Viva a conversa no pé do ouvido!
Foto em Destaque: Araceg.com
Ufa! Depois dessa leitura já estou ‘na maior reflexão’ para tentar perceber que tom estou ‘usando’ para me comunicar! Valeu pelo alerta! Continue a nos ‘sacudir’!